Véspera

“Sua hora ainda há de chegar”
É o que eles tanto me dizem;
Não tenho fé nessa promessa
Tenho demasiada pressa, e cicatrizes,

De outros tempos mais remotos
Que julguei ser essa tal hora
Ledo engano, alarme falso
Ainda temo reincidi-los agora.

E a essa altura evidencia-se difícil
Manter a salvo qualquer esperança
São tantos os desencontros cotidianos,
Episódios desumanos que a alma espanca.

A fé, de rocha, se torna apenas pó
As lágrimas, antes mornas, se cristalizam
Os sonhos, muitos, em segundos evaporam.
Os sentimentos, feito areia, ao fundo de um rio.

E assim a vida vai perdendo a sua cor
Pingo a pingo, letra a letra, traço a traço
O olhar, já sem brilho, alheio submerge
A intensidade aguardada perde o mormaço.

por Júnio Liberato

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