Meu calcanhar de Aquiles,
De “calcanhar” não tem nada!
Trata-se de um órgão patético
Com uma função consagrada,
Meu coração! Teimoso e viril
Que não recua frente às evidências,
E bem que este corpo cavernoso e imbecil
Por vezes revela-se uma bomba cronometrada,
Que bombardeia minh’alma de maneira nada sutil.
É aqui, bem aqui, à deleitosa deriva
Nesta devastada terra chamada eu,
Em que a neblina densa esvai-se lenta
Gélida, como sempre, me comprometeu.
Trai-me e engana-me tiranamente,
Ofuscando caminhos e passos meus
Por opacas vitrines que cercam-me blindadas
E por fim dou de cara com o reflexo do breu.
Foi bem ali, no covil da esperança remanescente
Que cobriu meus sonhos o véu da incerteza
E meus pensamentos tomou aos goles, indecente
Realeza das lágrimas, império de amargura
Nada é absoluto, não creio mais cegamente;
Pólvoras e gatilhos, revelam-se desfechos tristonhos
Dando fim a uma dor que devora lentamente.
Enfim, foi lá, nos caminhos cruzados
Pelas ruas de pedra, e rodovias a fio
As emoções se rebelaram sem pudor, desvairadas
Como arruaceiras que são reacenderam o pavio
Definindo quando ou não devem refrear
Os impulsos de uma alma que muito cedo implodiu.
por Júnio Liberato