Leigo Matemático

Queria poder extrair-lhe sorrisos,
Como extraio as raízes quadradas,
Daqueles números inteiros;
Mas, teu amor de tão incerto,
Em partes. Líquido, suspeito!
Deixa em evidência o fato
De que sou apenas mais um sujeito;
Um dividendo qualquer em meio a tantos,
Cujos valores não me garantem proveito.

E as expressões vagas em meu rosto,
De certo, são melancólicas
O coração todo estilhaçado
A alma semi-atrófica,
O sorriso, bem dizer extinto,
As lágrimas rolando mortas,
Meus olhos são portos desertos,
Abertas, pois, foram as comportas;

As somas que ando fazendo
São de grandes decepções,
As mesmas que dividem sem pena
Por aí afora os corações,
E por consequência caem pingadas
Por terra todas as emoções.

Tenho chorado muitas lágrimas,
Perdido a vontade de sorrir;
Provando que tu és subitamente fria,
Por não deixar-me ileso partir,
És tão boa em matemática
Quando o assunto é dividir:
Dividir-me em um ser ridículo
Que multiplicou-se por completo,
Somente para ver-te feliz.

por Júnio Liberato

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