Culpa

Enquanto meus olhos confiarem
Em ficarem abertos diante dos seus,
Aproveite-se de minhas fraquezas
Que toda minha defesa cedeu;
Mas se o ar se tornar mais pesado
E por algum acaso eu chorar,
E se essa chuva de lamentos
Em meu rosto enxurradas formar,
Pode ir tranquila a nado junto a elas
Não há pelo que pestanejar;

Se uma língua afiada me trespassar
Fazendo-me sangrar até a morte
Ou se eu começar a reclamar,
Do azar, ou da própria sorte
Peço que não se preocupe comigo
Tentarei encontrar o meu norte,
Nem precisa se mexer, por favor,
Peço encarecido que não se importe.

Não quero ser a bigorna que lhe pesa
Sobre os ombros algumas arrobas
Então, pra quê se incomodar
Com coisas assim tão bobas?
Afinal, a culpa não é sua,
E sim de muitas vogais ‘A’
Também tem muitas outras letras
Compondo este decepcionante beabá,
E afim de não ter mais recaídas
Desaprendi o ofício de soletrar.

Entretanto, não se preocupe
Ademais, você não tem nada com isso
Se a culpa de tudo não é sua,
Não há razão para tal reboliço,
Ninguém se preocupa com ninguém
E esse sim é o pior dos delitos.

por Júnio Liberato

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