Goteja-me

Sinto uma sede inenarrável
E eis que chove abruptamente
Lá fora como dilúvio intenso.
O telhado nu, num gotejo só
Encharca o solo semi ressecado
Dos meus áridos pensamentos.

Goteja-me,
Porque careço de chuvas
Porém, transbordo liquidez.
Goteja-me,
Cada gota se torna oceano,
Cada pingo, manancial
Cada gotejar um ápice de sensatez,

E, para os que não tem de beber
Qualquer gotejo se torna nascente
A desaguar num mar de angano
Oriunda de uma miragem convincente.

Para se preencher o vazio existencial,
Afim de se matar imensa sede
Numa mísera gota eventual
Toda uma vida não é o suficiente.
Onde há, no entanto uma infiltração qualquer
É por haver atrás de si uma rachadura inconveniente.

por Júnio Liberato

Compartilhe esse post:

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Relacionados

Deus se revela através da sua criação, das criaturas e das mais inesperadas situações que nos vêm, por vezes, de forma pedagógica.
Não há como explicar a saudade, o tempo a dissipa mas não dizima; afugenta, mas não extingue; leva, mas não consome.