O Dilema Do Galo

Vinte um dias se revelam fugazes
Como milagreiros de uma vida,
A gema então se torna sangue
Sua cor logo se modifica;
É a mágica sublime das aves
Dentro de uma casca aquecida
Enquanto a clara lentamente
A mantém saudável e nutrida.

E depois que ele nasce
Rompendo a casca bem frágil
Com o bico afiado busca a luz
De forma instintiva e hábil,
Pela galinha com todo amor
Sob suas penas será abarcado,
Vem agora um novo desafio:
Manter-se são e salvo.

O pintinho que amanhã será galo
Deixa-me agora uma tarefa difícil
Mantê-lo vivo no quintal;
Ou com quiabo fazer um cozido?
Já que a carne da ave caipira
Só em pensar me deixa faminto
Mas é triste pensar em matá-lo
Já que nos tornamos assim tão amigos.

Não sei mais nem o que faço,
Quando chegar o tempo derradeiro
De ceifar a vida inocente
Deste ser que habita o terreiro,
Dando vida ao inanimado
Catando insetos no cisqueiro,
Despertando-me toda manhã
A postos em seu poleiro.
O que faço eu com o galináceo?
Mato a saudade ou mato o desejo?

por Júnio Liberato

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Não há como explicar a saudade, o tempo a dissipa mas não dizima; afugenta, mas não extingue; leva, mas não consome.